sábado, 27 de agosto de 2011

O País do Passado

"Bom mesmo era no meu tempo." Quem nunca ouviu isso? É uma daquelas verdades quase invariáveis na vida de qualquer cidadão brasileiro. No meu caso, eu lembro que perto da minha casa a natureza ainda reinava, as praias ainda eram limpas, andar de ônibus não era sacrifício, andar a pé ainda era relativamente seguro, andar de carro ainda era prazeroso,  os preços de imóveis ainda faziam sentido, etc.

De lá para cá o Brasil cresceu muito de fato, principalmente no que se refere à: violência, corrupção, poluição, desmatamento, trânsito, impostos, preços de bens de consumo, doentes mal atendidos, alunos despreparados, profissionais desqualificados, insensatez, etc.

E do jeito que as coisas andam, os dias de hoje serão apenas "os bons tempos" de amanhã.




segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Se paga bem que mal tem?

Nos meses que antecedem as eleições é comum ter esse tema, as eleições, como assunto principal em qualquer reunião social. Normalmente as pessoas, quando tem, divulgam seus candidatos e explicam o motivo dos seus votos. Principalmente quando se trata dos candidatos à presidência, já que estes possuem uma cobertura mais ampla da mídia. Eu tenho observado um fato recorrente nas rodas de conversa em que eventualmente participo, os eleitores propensos a votar na candidata Dilma Rousseff apresentam a mesma motivação, independente de sua classe social ou nível de escolaridade. A massa pobre e com pouca escolaridade, que é quem efetivamente elege, tem medo de perder o bolsa família; os servidores públicos tem medo de congelamento de salário; e a parcela da iniciativa privada que presta serviços ao governo quer continuar com seus negócios intrépidos, que segundo a mídia e senso comum, são facilitados pelo governo vigente mediante pagamento de propina. Quando eu questiono as pessoas com esse tipo de motivação, recebo a seguinte resposta recorrente: "É lógico que eu penso assim, primeiro tem que estar bom para mim, depois para os outros". As implicações dessa linha de pensamento eu deixo para o leitor, como reflexão.

Com isso não quero dizer que só os eleitores da Dilma pensam assim, há claro a parcela de eleitores que usam a mesma motivação para os outros candidatos, mas essa tendência é mais notória justamente no conjunto de eleitores da Dilma, o que se explica em parte pelo fato da candidata em questão personificar o próprio Lula e a continuação de seu governo. Sob o meu ponto de vista, o perfil dessa parcela de eleitores é definido pela máxima popular que intitula esse post. Logicamente, as minhas conclusões se baseiam em um pequeno número de observações e na mídia, portanto seria insensato generalizar, mas dados os resultados das pesquisas de opinião atuais, eu tenho uma forte razão para suspeitar que essa motivação eleitoral se confirma em larga escala.

Logicamente, o próprio conceito de democracia implica no voto livre, ou seja, o voto do indíviduo deve ser respeitado independentemente de suas motivações. O que deve ser lembrado é que o voto, apesar de ser individual, não deve ser individualista. Eu não acho as propostas de governo dos três candidatos liderando as pesquisas de opinião significativamente diferentes uma das outras, mesmo porque há a promessa de continuidade, por todos os três candidatos, dos pontos considerados como positivos do governo Lula. Lembrando que o sucesso do próprio governo Lula se deve, em grande parte, ao fato do governo ter dado continuidade a muitos projetos iniciados em governos anteriores, sendo o mais notório o plano real. Sendo assim, eu não posso votar na Dilma, apesar de também poder usar a mesma motivação, assim como fazem muitos dos meus colegas (sou servidor público), pois não acho que um eventual aumento de salário, promessa que também consta, de certa forma, nas propostas de governo dos outros candidatos, justifiquem um governo que flerta com idéias de extrema esquerda (e.g., censura da imprensa), que defenda regimes ultrapassados, autoritários e fracassados (e.g., Irã e Venezuela), que faça pouco caso da justiça eleitoral (e.g., presidente fazendo propaganda eleitoral antes do período oficial), que faça alianças inescrupulosas (e.g., Sarney, Collor, Renan Calheiros) e que faça da corrupção no poder público lugar comum no cotidiano brasileiro.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Aprisionados na superfície

A máxima "uma imagem vale por mil palavras" deveria ter se restringido à semiótica, mas foi levada muito a sério e acabou definindo uma nova era onde não mais nos aprofundamos, ao contrário, emergimos. A estética de hoje se resume à casca: a capa do livro define o conteúdo; heróis são forjados à maquiagem; beleza = {botox, photoshop, abdmomen tanquinho}; carros e grifes famosas definem o que chamamos de elite e alta sociedade; engravatados são confundidos com seres superiores e pessoas na televisão com deuses; progresso é inventado e materializado em outdoors; alegria é empacotada em kits de micaretas; novelas são modelos de civilizacão; e finalmente felicidade se resume a união de tudo isso.

Não me entendam errado, não quero aqui posar de superior e dizer algo pomposo do tipo: Infeliz daquele que é "feliz", pois não tem nada. Para isso teria que me excluir da nossa "sociedade de plástico", mas também vivo com um pé na "superficie". É dificil se desvincular quando o meio te puxa para cima. Mas me vigio para nunca esquecer que removendo a casca, somos todos iguais num ponto: pequenos e perdidos diante da grandeza da existência.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Brasil é redondo

Antes do modelo geocêntrico de Ptolomeu, acreditava-se que a terra era plana. Uma perspectiva notoriamente errada do planeta, que inclusive impedia a exploração de rotas mais ousadas no oceano. Quando a idéia da terra esférica foi comprovada e passou a ser aceita, notou-se rapidamente quão ridícula era a idéia da terra plana.

Amanhã eu começo o último capítulo da minha aventura em terras germânicas. Depois eu escrevo sobre esse capítulo, mas nesse post eu queria falar sobre as entrelinhas que separam esse capítulo dos capítulos anteriores. Assim como Ptolomeu, a minha perspectiva é diferente.

Depois de dois longos anos, finalmente estava prestes a ir para casa novamente. A princípio havia planejado ir somente em Dezembro, mas acabei mudando os planos por conta de um concurso. Os argumentos eram matadores, ou seja, trata-se exatamente da minha área, e eu estaria de volta à minha terra natal junto à minha família e amigos. Isso fez então com que eu que adiantasse minha viagem para Outubro.

Sempre sou questionado e instigado a não voltar para o Brasil, por razões óbvias, isto é, a distância astronômica entre o Brasil e Alemanha em termos de qualidade de vida, educação, civilidade e muitos outros. Mas tenho um contrato com o CNPq que me "motiva" fortemente a voltar, muito embora eu sempre tenha alimentado um desejo genuíno de voltar. Além do mais, na minha perspectiva, eu não poderia deixar o Brasil sem antes por em prática o mínimo de mudança que conservei e amadureci durante os anos. O interessante é que a maioria das pessoas que me ouvem falar isso, principalmente as mais velhas, me desmotivam dizendo que isso é dar murro em ponta de faca, mas eu não vou me render. Pois nas palavras sábias do Pit Passarel na música Prelude to Oblivion do bom e velho Viper:

"...because the world won't take example
from somebody who won't fight
for better days and hide away...
...I ask all the world, to follow the song"

Na sala de embarque em Frankfurt, e eu lá perdido em meus pensamentos tendo como pano de fundo descontraídas conversas de outros brasileiros que assim como eu esperavam a chamada para o embarque, um dos funcionários da companhia áerea perguntou se alguém falava português, pois aparentemente alguém tinha um problema e não conseguia se comunicar. Como ninguém se manifestou, eu me ofereci como intérprete. Para resumir, uma garota estava com excesso de bagagem de mão, e portanto teria que pagar 180 euros (aprox. 459 reais na cotação de hoje). Perguntei a ela quanto ela tinha e ela disse apenas 3 euros, para ligar para tia que mora na Alemanha em caso de qualquer problema, apesar de que já estaria muito tarde para tal. Eu disse ao funcionário que ela não tinha dinheiro, ao qual ele desdenhou dizendo que todos dizem a mesma coisa. O excesso se devia basicamente a presentes que a tia da garota estava enviando a familiares. O mais interessante é que outras pessoas com mais de uma bagagem de mão, eventualmente até mais pesadas, passaram sem problem. Não quero aqui julgar o funcionário, pois não sei como funciona o sistema deles de controle, talvez por amostragem, mas a garota era de cor. Sei que tentei de todas as formas ajudar para que uma excessão fosse aberta. Depois de muita conversa, ele abaixou para 40 euros. Ela não tinha dinheiro, e apesar de não conhecê-la, acabei emprestando, pois a garota não tinha ninguém mais a quem recorrer. Isso me rendeu um lamentável comentário do funcionário, dizendo que por causa disso eu poderia eventualmente conseguir favores sexuais da garota. Eu coloquei ele no lugar dele na mesma hora de forma que ele se empertigou envergonhado. Mas não pude deixar de notar que isso na verdade se trata de um retrato de como o Brasil é vendido, ou seja, carnaval, mulatas e sexo fácil. Bom, felizmente a garota era uma pessoa muito decente e a família dela me retornou o dinheiro assim que desembarcamos Salvador. Na minha perspectiva, as pessoas são de bem até que se prove o contrário (com exceção dos políticos).

Dormiria na casa de dois grandes amigos que estão morando em Salvador. Logo no caminho da casa deles, se vê o pior problema do Brasil, ou seja, o abismo social entre ricos e pobres. Na minha perspeciva a diferença social deveria ser equilibrada. Apesar de cansado, saímos para comer a típica lambreta de Salvador. Entre algumas cervejas, relembramos figuras caricatas da nossa adolescência no Marista Maranhense, como o "velho" bombomzeiro que vendia os irritantes "culhões de bode" :) Isso nos rendeu crises espasmódicas de risada. Estava feliz em estar em casa.

Finalmente chego em São Luís. Felicidade em reencontrar meus pais a parte, a primeira coisa que eu notei foi a qualidade (ou falta dela) das ruas. As ruas de São Luís estão absolutamente indecentes, repletas de buracos, bueiros, e ondulações. Outras impressões imediatas foram o trânsito caótico e construção massiva e desordenada de prédios altos e modernos, contrastando fortemente com a ridícula falta de infra-estrutura urbana. Na minha perspectiva, o crescimento urbano tem que andar lado a lado com a infra-estrutura e qualidade dos serviços urbanos, isto é, bom pavimento, transporte público, segurança, limpeza e etc.

Nos próximos dias eu me tranquei em casa para estudar para o concurso. Depois dessa fase, foi a hora de respirar São Luís mais uma vez. Estando fora por tanto tempo, acabei romantizando o Brasil. Na minha cabeça as coisas deveriam estar muito, muito melhores, mesmo tendo doses diárias da realidade trazidas pelos noticiários. Os primeiros dias são sempre difíceis, não vou negar. A sujeira das ruas e praias, a falta de respeito com o ser humano, a arrogância e indiferença da nossa elite burra e ignorante, a explosão da violência urbana e despreparo da polícia, a podridão política descrita no livro honoráveis bandidos, e etc., pois a lista é longa e distinta. Eu não estava preparado para isto, pois as coisas parecem priores do que quando deixei Sao Luis. Felizmente, e contrastando fortemente a isto, estão a brisa e o mar, a minha família e os meus amigos; pessoas de bem, com as quais tive os momentos mais divertidos em dois longos anos. Além é claro de outras pessoas especiais que conheci na minha curta estadia. Pela segunda vez estava feliz em estar em casa.

Já mais relaxado do choque de realidade, ouço um juiz conhecido me dizer: "Rapaz, não volta, aqui só é bom para passear". Aí eu digo: "Não posso, existem compromissos". Ele rebate: "Deixa a união te cobrar". Fala sério!! Ele não sabe o quanto eu me revolto quando ouço isso, ainda mais de uma pessoa que deveria dar bons exemplos! Na minha perspectiva, a "elite" deveria ser espelho de educação, cultura e idoneidade.

A minha perspectiva está errada, o Brasil não é "plano". Mas diferentemente da geometria imutável da terra, ainda acredito que a "geometria" do nosso meio é moldável segundo as nossas próprias perspectivas.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A faísca virou fogo

É aquela estória, "pimenta nos olhos dos outros é refresco"; a pimenta agora caiu nos meus, e para ser bem sincero, a sensação não é das mais agradáveis (por motivos óbvios). Para o bem ou para o mal, parece que o vento levou a faísca da Paraíba lá pro Maranhão.

Não me entendam errado, o que eu escrevi sobre a cassação do Cássio Cunha Lima também vale para o caso do Jackson Lago. Obviamente condicionado se o processo for conduzido com retidão e se as denúncias forem devidamente provadas.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Onde os dinossauros ainda vagueiam

Recebi um email recentemente do meu grande amigo e grande economista Sr. Fozzie com um artigo da revista "The Economist" em anexo, que merece ser divulgado. Abaixo, uma visão de fora, talvez não tão turística, mas nem por isso menos verdadeira, da nossa realidade como maranhenses.

Obs.: Notem que o artigo abaixo é uma tradução livre minha, o artigo original pode ser acessado aqui. Também aconselharia uma espiadinha aqui, onde o Ivan Lessa da BBC Brasil vai um pouco além de traduzir partes do artigo.



Um chefão da política brasileira
Onde os dinossauros ainda vagueiam

Uma vitória para o semi-feudalismo

JOSÉ SARNEY foi eleito pela primeira vez (deputado federal) há quase meio século. Nos últimos 40 anos ele controlou a fortuna do Maranhão, um estado na parte mais oriental da região amazônica. Ele representou o estado como deputado federal (duas vezes), governador e senador (duas vezes). Em 1985 ele se tornou o acidental e indistinto presidente do Brasil, quando o candidato eleito (Tancredo Neves) faleceu antes de poder exercer o cargo. Mais recentemente ele foi o senador do Amapá (duas vezes). Tempo de se aposentar, alguém pode pensar.

O Sr. Sarney parece um retrocesso à uma era de semi-feudalismo político que ainda prevalece em algumas regiões do Brasil e arrasta o resto para trás. Apesar disso, e com o tácito apoio de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente centro-esquerdista do país, o Sr. Sarney foi escolhido para presidir o senado nacional. É a terceira vez em sua carreira que ele empossa esse poderoso cargo, o qual lhe confere um certo grau de controle sobre a agenda do governo e abre oportunidades para tráfico de influência.

E assim se sustenta o domínio do Sr. Sarney sobre o Maranhão, justamente quando alguns acreditavam que ele já estava chegando ao fim. O centro de São Luís, capital do estado, é decrépito. Alguns prédios históricos são bem cuidados, tais como a iluminada igreja branca da nossa senhora do desterro. Mas a maioria está sucumbindo no calor húmido da cidade. As ruas são repletas de buracos. Um extraordinário número de pessoas passa o dia em estacionamentos públicos na esperança de conseguirem alguma esmola em troca de indicarem lugares para estacionar. Numa cidade de 1 milhão de pessoas, houve 38 assassinatos só no mês passado.

Mas é fora de São Luís onde o retrocesso do Maranhão é mais evidente. Em Sangue, uma cidade no interior do estado, muitas pessoas vivem em casas de um só cômodo, cobertas com folhas de palmeiras, sem água encanada e eletricidade. Transporte público é escasso. Não há muito para se comprar ou vender além de bacuri, uma fruta amazônica. O sistema educacional do Estado é precário. A taxa de mortalidade infantil é de 39 para cada 1000 nascimentos vivos e está 60% acima da média brasileira.

O domínio político por uma única pessoa ou família não é incomum no nordeste do Brasil. Mas isso está começando a mudar. O clã da família Sarney está se tornando atípico. A filha do Sr. Sarney, Roseana, foi governadora do Maranhão e atualmente representa o estado no senado. Seu filho foi ministro no mandato anterior do governo. Outros parentes e relativos possuem empregos nas cortes e serviços públicos do Maranhão. Um dos tenentes do Sr. Sarney, Edison Lobão, é o ministro de Lula para minas e energia. Quando ele assumiu o ministério, o cargo antigo do Sr. Lobão no senado nacional foi para o seu filho. Todos os três senadores do Maranhão respondem ao Sr. Sarney, assim como os seus companheiros senadores do Amapá.

Esse controle é facilitado pelo fato da família Sarney possuir a maior empresa de comunicação do Maranhão. A estação de televisão transmite programas da Globo, a qual produz as novelas mais populares do Brasil. Essas são intercaladas com notícias floreadas sobre a família Sarney. O controle sobre estações de rádio e televisão é particularmente importante na zona rural do Maranhão, onde a maioria dos eleitores é analfabeta e portanto onde os Sarneys conseguem a maioria dos seus votos. "Nós somos dominados por uma oligarquia eletrônica", lamenta Zé Reinaldo, o governador anterior.

Mesmo assim, o poder da família pode estar finalmente enfraquecendo. Em 2006 Roseana Sarney perdeu as eleições para o atual governador Jackson Lago, o qual está sendo, juntamente com seus deputados, investigado por crimes eleitorais. Se eles forem cassados, a Sra. Sarney vai assumir o governo mais uma vez. Nas eleições municipais do ano passado, os candidatos dos Sarneys sofreram várias derrotas. "Sarney sempre diz que o Maranhão precisa votar nele de forma que ele possa trazer dinheiro de Brasília", diz Arleth Santos Borges da Universidade Federal do Maranhão. "De fato, ele precisa de poder em Brasília para ter poder aqui". E é exatamente isso que a presidência do Senado lhe traz.

Enquanto isso o Maranhão vai seguindo o seu triste caminho. "Por quinze anos eu escuto Sarney dizer que ele vai trazer turismo e desenvolvimento para o Maranhão, mas nós continuamos a ter uma única rodovia para entrada e saída dessa cidade", diz Hélio, um garçon em São Luís. "E ambas são uma bagunça."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Tirando a poeira

Manter o blog atualizado nao é tarefa fácil, e apesar de ter centenas de assuntos para falar, quase sempre aparece alguma coisa mais urgente. Eu evito transformar o blog num diário e prefiro falar sobre assuntos mundanos sob o meu ponto de vista, mas outubro foi um mes especial, e sendo assim, eu me permito falar um pouco do que andei fazendo nesse mes.

Além de outras coisas que falarei mais na frente, comecei o mes fazendo viagens bastante interessantes. Primeiro fui a bela Ilha de Re na Franca, por conta de um curso de verao em aprendizagem de máquina, onde tive oportunidade de me atualizar e conhecer pessoas bem interessantes de todas as partes do mundo;

uma semana após chegar da Franca, tirei uma semana para cumprir uma velha promessa e visitar velhas amigas na Lituania. Eu precisaria de uns dois posts para falar a respeito, um para cada viagem, mas a Lituania foi particularmente interessante, pois eu pude imergir num país pós-uniao soviética, e ver que apesar da imensa riqueza cultural, os países do leste europeu ainda sao extremamente pobres se comparados a países como Alemanha, Franca e Espanha, por exemplo. A maioria desses países só conseguiram sua independencia no incicio dos anos 90, mais ou menos na mesma época que o muro de Berlim caiu e a Alemanha foi reunificada. Eu só posso imaginar a quantidade de mudancas drásticas que estava ocorrendo na Europa nessa época, um período excitante com certeza. A minha amiga Edita foi uma fantástica guia e em poucos dias pude conhecer os principais pontos do país. Apesar do país ser pequeno (o estado do maranhao é mais ou menos 5 vezes maior), tem paisagens de contos de fadas, uma identidade muito forte possuindo inclusive língua própria, além de uma história fascinante.


Assim que voltei meu pai chegou para me visitar. Uma grande alegria com certeza, pois a minha família me faz muita falta. Tentei fazer o mesmo que a Edita fez comigo e visitei com meu pai alguns dos pontos mais badalados da Alemanha como: Hamburgo, Berlin, Heidelberg e Frankfurt. Além disso fomos a Strassburg na Franca. Em cada uma dessas cidades aproveitei para reencontrar grandes amigos que fiz durante minha estadia aqui até entao.

Deixei meu pai no aeroporto e de lá segui direto para Karlsruhe, onde fui apresentar um artigo na conferencia internacional em Web Semantica (ISWC 2008), uma boa evidencia da relevancia da minha pesquisa até entao, dado que a ISWC é a mais renomada e importante conferencia na área. Fiz vários contatos importantes e conheci grandes nomes na área.



Outubro marcou tres anos que estou aqui na Alemanha, e apesar de ter pensado várias vezes em escrever um diário, nunca o fiz, mas os momentos mais fortes tenho claros na cabeca, como o dia em que cheguei:

03.10.2005 – No feriado nacional da reunificacao Alema eu chego, ainda sentindo o nó na garganta de tudo que deixei pra trás e o medo natural de todo um novo mundo de incertezas que se levantava na minha frente. Para a minha felicidade dividia uma casa com mais dois estudantes estrangeiros, um proveniente do Chile e o outro de Camaroes, que estavam na mesma situacao que eu e dessa forma se tornaram quase que imediamente a minha nova família naquela terra estranha. Nesse mesmo dia resolvemos caminhar pelas redondesas, desertas por causa do feriado, e fomos abordados logo de cara pela polícia que com a mao na pistola pediu nossos passaportes. Com excecao do Camaronense ninguem mais falava alemao, entao o momento foi um pouco tenso pois nao sabíamos o que se passava e o que deveríamos fazer, mas Pouokam (de Camaroes) nos explicou do que se tratava e por sorte todos carregavam seus devidos passaportes. Nao foi uma impressao muito animadora para o primeiro dia, mas sabia que dali pra frente nao poderia me permitir fraquejar, tinha que me acostumar com o fato de que nao tinha mais volta (pelo menos até terminar o doutorado).


E assim se passaram seis meses de curso de Alemao em Frankfurt. Em Abril de 2006 comecei finalmente meu doutorado em Freiburg. E depois de mais 8 meses em Freiburg, meu professor recebe uma ótima proposta em Hildesheim (Norte), para onde eu juntamente com o meu grupo nos mudamos, e estamos até hoje.

Em Outubro eu também fiz 30 anos. O aniversário foi no dia da minha apresentacao na conferencia, entao nao pude fazer nenhuma festa, mas a Karen e o Alex, dois magníficos amigos que tenho, dirigiram 1 hora numa chuva torrencial para me resgatar da conferencia de forma que pudéssemos pelo menos jantar juntos.


Putz, 30 anos... Nunca pensei que essa idade um dia ia chegar, e querendo ou nao, a adultice vem com ela. Eu olho para os meus amigos, com excecao dos que trabalham comigo, pois estao na mesma situacao que eu, e quase todos já estao casados, alguns inclusive já até divorciados ;) Me dá um frio na barriga, mas eu sei que geralmente o caminho científico cobra o seu preco atrasando algumas coisas também importantes na vida do ser humano, como constituir família por exemplo, mas isso está na minha lista e eu espero nao demorar muito mais para que esse e outros planos se concretizem. Continuo sendo um otimista e sonhador, mas o que muda é a dose de sobriedade que a idade madura traz. Mas se alguém me perguntar qual foi a coisa mais importante que mudou com a idade, eu diria aprender a dar mais valor e nunca esquecer do sorriso de crianca, pois sorriso de crianca é puro e descarregado de malícia.